quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Origem e Evolução da Antropologia

Origem e Evolução da Antropologia

Antropologia, cuja origem etimológica deriva do grego άνθρωπος anthropos, (homem / pessoa) e λόγος (logos- razão/pensamento, é a ciência preocupada com o fator humano e suas relações.
Pode-se afirmar que há poucas décadas a antropologia conquistou seu lugar entre as ciências. Primeiramente, foi considerada como a história natural e física do homem e do seu processo evolutivo, no espaço e no tempo. Se por um lado essa concepção vinha satisfazer o significado literal da palavra, por outro restringia o seu campo de estudo às características do homem físico. Essa postura marcou e limitou os estudos antropológicos por largo tempo, privilegiando a antropometria, ciência que trata das mensurações do homem fóssil e do homem vivo. A antropologia, sendo a ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: abrange, no espaço, toda a terra habitada; no tempo, pelo menos dois milhões de anos, e todas as populações socialmente organizadas. Divide-se em duas grandes áreas de estudo, com objetivos definidos e interesses teóricos próprios: a Antropologia Física (ou Biológica) e a Antropologia Cultural, que se centram no desejo do homem de conhecer a sua origem, a capacidade que ele tem de conhecer-se, nos costumes e no instinto.
            Para pensar as sociedades humanas, a antropologia preocupa-se em detalhar, tanto quanto possível, os seres humanos que as compõem e com elas se relacionam, seja nos seus aspectos físicos, na sua relação com a natureza, seja na sua especificidade cultural. Para o saber antropológico o conceito de cultura abarca diversas dimensões: universo psíquico, os mitos, os costumes e rituais, suas histórias peculiares, a linguagem, valores, crenças, leis, relações de parentesco, entre outros tópicos.
Embora o estudo das sociedades humanas remonte à Antigüidade Clássica, a antropologia nasceu, como ciência, efetivamente, da grande revolução cultural iniciada com o Iluminismo.

História da Antropologia

 Embora a grande maioria dos autores concorde que a antropologia se tenha definido enquanto disciplina só depois da revolução Iluminista, a partir de um debate mais claro acerca de objeto e método, as origens do saber antropológico remontam à Antiguidade Clássica, atravessando séculos. Enquanto o ser humano pensou sobre si mesmo e sobre sua relação com "o outro", pensou antropologicamente.

 Foi, sem dúvida, na Antiguidade Clássica que a "medida Humana" se evidenciou como centro da discussão acerca do mundo. Os gregos deixaram inúmeros registros e relatos acerca de culturas diferentes das suas, assim como os chineses e os romanos. Nestes textos nascia, por assim dizer, a Antropologia, e no século V a.C. um exemplo disto se revela na obra de Heródoto, que descreveu minuciosamente as culturas com as quais seu povo se relacionava. Da contribuição grega fazem parte também as obras de Aristóteles (acerca das cidades gregas) e as de Xenofonte (a respeito da Índia).

Entre os romanos merece destaque o poeta Lucrécio, que tentou investigar as origens da religião, das artes e se ocupou da discurso. Outro romano, Tácito analisou a vida das tribos germânicas, baseando-se nos relatos dos soldados e viajantes. Salienta o vigor dos germanos em contraste com os romanos da sua época. Agostinho, um dos pilares teológicos do Catolicismo, descreveu as civilizações greco-romanas "pagãs", vistas como moralmente inferiores às sociedades cristianizadas. Em sua obra já discutia, de maneira pouco elaborada, a possibilidade do "tabu do incesto" funcionar como norma social, garantia da coesão da sociedade. É importante salientar que Agostinho, no entanto, privilegiou explicações sobrenaturais para a vida sociocultural.
Embora não existisse como disciplina específica, o saber antropológico participou das discussões da Filosofia, ao longo dos séculos. Durante a Idade Média muitos escritos contribuíram para a formação de um pensamento racional, aplicado ao estudo da experiência humana, como é o fez o administrador francês Jean Bodin, estudioso dos costumes dos povos conquistados, que buscava, em sua análise, explicações para as dificuldades que os franceses tinham em administrar esses povos. Com o advento do movimento iluminista, este saber foi estruturado em dois núcleos analíticos: a Antropología Biológica (ou Física), de modo geral considerada ciência natural, e a Antropologia Cultural, classificada como ciência social.

 O século XVIII

Até o século XVIII, o saber antropológico esteve presente na contribuição dos cronistas, viajantes, soldados, missionários e comerciantes que discutiam, em relação aos povos que conheciam, a maneira como estes viviam a sua condição humana, cultivavam seus hábitos, normas, características, interpretavam os seus mitos, os seus rituais, a sua linguagem. Só no século XVIII, a Antropologia adquire a categoria de ciência, partindo das classificações de Carlos Lineu e tendo como objeto a análise das "raças humanas".
O legado desta época foram os textos que descreviam as terras, a (Fauna, a Flora, a Topografia) e os povos "descobertos" (Hábitos e Crenças). Algumas obras que falavam dos indígenas brasileiros, por exemplo, foram: a carta de Pero Vaz de Caminha ("Carta do Descobrimento do Brasil"), os relatos de Hans Staden, "Duas Viagens ao Brasil", os registros de Jean de Léry, a "Viagem a Terra do Brasil", e a obra de Jean Baptiste Debret, a "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Além destas, outras obras falavam ainda das terras récem-descobertas, como a carta de Colombo aos Reis Católicos. Toda esta produção escrita levantou uma grande polémica acerca dos indígenas. A contribuição dos missionários jesuítas na América (como Bartolomeu de Las Casas e Padre Acosta) ajudaram a desenvolver a denominada "teoria do bom selvagem", que via os índios como detentores de uma natureza moral pura, modelo que devia ser assimilado pelos ocidentais. Esta teoria defendia a idéia de que cultura mais próxima do estado "natural" serviria de remédio aos males da civilização.

O século XIX

No Século XIX, por volta de 1840, Boucher de Perthes utiliza o termo homem pré-histórico para discutir como seria sua vida cotidiana, a partir de achados arqueológicos, como utensílios de pedra, cuja idade se estimava bastante remota. Posteriormente, em 1865, John Lubock reavaliou numerosos dados acerca da Cultura da Idade da Pedra e compilou uma classificação em que enumerava as diferenças culturais entre o Paleolítico e Neolítico.
Com a publicação de dois livros, A Origem das Espécies, em 1859 e A descendência do homem, em 1871, Charles Darwin principia a sistematização da teoria evolucionista. Partindo da discussão trazida à tona por estes pesquisadores, nascia a Antropologia Biológica ou Antropologia Física

 A antropologia evolucionista

Marcada pela discussão evolucionista, a antropologia do Século XIX privilegiou o Darwinismo Social, que considerava a sociedade européia da época como o apogeu de um processo evolucionário, em que as sociedades aborígines eram tidas como exemplares "mais primitivos". Esta visão usava o conceito de "civilização" para classificar, julgar e, posteriormente, justificar o domínio de outros povos. Esta maneira de ver o mundo a partir do conceito civilizacional de superior, ignorando as diferenças em relação aos povos tidos como inferiores, recebe o nome de etnocentrismo. É a «Visão Etnocêntrica», o conceito europeu do homem que se atribui o valor de "civilizado", fazendo crer que os outros povos, como os das Ilhas da Oceania estavam "situados fora da história e da cultura". Esta afirmação está muito presente nos escritos de Pauw e Hegel.
 Teoria
Com fundamento nestas concepções, as primeiras grandes obras da antropologia, consideravam, por exemplo, o indígena das sociedades não européias como o primitivo, o antecessor do homem civilizado: afirmando e qualificando o saber antropológico como disciplina, centrando o debate no modo como as formas mais simples de organização social teriam evoluído, de acordo com essa linha teórica essas sociedades caminhariam para formas mais complexas como as da sociedade européia.
Nesta forma de apreender a experiência humana, todas as sociedades, mesmos as desconhecidas, progrediriam em ritmos diferentes, seguindo uma linha evolutiva. Isso balizou a idéia de que a demanda colonial seria "civilizatória", pois levaria os povos ditos "primitivos" ao "progresso tecnológico-científico" das sociedades tidas como "civilizadas". Há que ver estes equívocos como partes da visão de mundo que pretendiam estabelecer as diretrizes de uma lei universal de desenvolvimentoHoje, ningúem acredita que isso é .A antropologia, no entanto, não é uma ciência acabada, mas, que está constantemente se renovando e criando novas bases teóricas e metodológicas.
















sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A Natureza do Homem Segundo Karl Marx



Acredito que uma das mais significativas análises da condição humana foi dada por Karl Marx. Para Marx, o que caracteriza o homem não é apenas a racionalidade, mas o fato de ser o artífice do seu próprio desenvolvimento. Se uma pedra pudesse pensar, ou seja, tivesse consciência dela e do mundo que a cerca, ainda assim, ela continuaria sendo pedra, pois, não poderia mudar sua forma e nem do mundo em que vive. Os seres humanos, ao contrário , são capazes de mudar o mundo ao seu redor e, fazendo isso, mudam a si mesmos.
O conceito marxista do homem nasce do pensamento de Hegel. Hegel, no entanto, era idealista e achava que a  compreensão da natureza  humana estava na evolução dialética das ideias. O homem, nessa visão, é fruto da sua consciência, do seu pensar. O pensamento não só precederia a ação, como seria seu fundamento último, a sua essência imutável.
Marx inverteu a filosofia de Hegel. Não é a consciência que determina o ser, mas o ser que determina a consciência. Como consequência, para entendermos o homem,  temos que saber como ele se organiza para produzir os meios necessários a sua sobrevivência.  Ou seja, sua essência,  não é algo dado, estático, mas construída no seu processo de vida. O homem tem, é claro, uma natureza instintiva, mas o que o caracteriza é ser livre e consciente. Sua independência e liberdade, no entanto,  baseiam-se no seu processo de autocriação. Um ser não é independente a menos que seja seu próprio senhor, e ele só o é quando deve sua existência a si mesmo. Um homem que vive graças ao favor de outrem deve ser considerado um ser dependente. Chegamos, então, ao núcleo do pensamento de Marx e que, no meu entender, é o fundamento da sua crítica ao sistema capitalista. A crítica central feita por Marx ao capitalismo, não é a injustiça na distribuição da riqueza, o que também é verdadeiro, mas, o processo de perversão do trabalho, o que ele chamou de trabalho alienado, que converte o homem em uma “monstruosidade”.
Marx se preocupa, também, em distinguir o homem dos animais. Esta distinção, segundo ele, começa a  existir quando os homens começam a produzir os seus meios de sobrevivência. Dá-se,então, a passagem da vida animal, puramente instintiva, para o ser social. Assim, enquanto  os animais dependem estaticamente da natureza e, por isso, são sempre iguais, o  homem, ao contrário, com seu trabalho,  tem uma relação dialética com seu ambiente. Nesse contexto, as diversas manifestações da sua vida, como a moral, a política, a arte etc. , não tem, absolutamente, uma história própria ,encontarndo-se intimamente relacionadas e dependentes das  relações socias de produção.São os homens, historicamente determinados, que criam formas de pensamento.
 A consciência humana,porém,  não se desenvolve no individuo isolado, mas unicamente nas relações sociais. Desde o começo o espírito leva em si a maldição de ser “contaminado pela matéria”, na qual se manifesta.Por exemplo:a  linguagem é tão velha quanto à consciência. A linguagem nasce ,em primeiro lugar, da necessidade de  manter comércio com  outros homens. A consciência, portanto, é ,desde o inicio, um produto social e permanecerá como tal enquanto existirem homens. Mas é necessário  recordar que, segundo Marx,  não se trata de considerar o individuo passivamente submisso à sociedade.  Marx afirma, decisivamente ,a reciprocidade da ação que se exerce entre o homem e a sociedade. A sociedade contribui para a transformação do homem, mas é o homem que produz essas modificações. Concluindo,podemos dizer que ,para Marx, é preciso ver o homem como um ser em movimento, em continuo processo de construção e que  tem  sua natureza forjada   no bojo de  relações  sociais  historicamente constituidas.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Educação: valores e fundamentos

Introdução
Começo, hoje, o meu trabalho como blogueiro , falando de uma questão  que considero  fundamental e que estará, de modo geral, perpassando os diversos assuntos  que iremos abordar neste espaço: o   processo  educacional. A educação é um tema que está na “moda” e na agenda de discussão de diversos grupos socais. Empresários, trabalhadores, pedagogos, sociólogos, políticos etc., todos falam sobre ela. Frente a essa diversidade de grupos que tratam do assunto, fica a pergunta: de que educação estão falando grupos  diferentes e que, geralmente, tem interesses e ideologias opostas? Na verdade, trata-se de um tema amplo e complexo e que exige uma reflexão em que o assunto  seja enfocado não só pelo seu lado técnico ou pragmático, mas, fundamentalmente, em suas bases filosóficas. Portanto, desejo começar expondo algumas visões que, em si, não podemos dizer que são falsas, mas sim incompletas. Feito isso, passaremos a discutir a visão que,  acredito,  está   mais próxima daquilo que é  a   “essência da educação”.
1.      A visão do senso comum sobre a educação.
De modo geral, podemos dizer que a educação, na visão do senso comum,   está associada,basicamente, à formação  escolar dos indivíduos. Obviamente, ninguém pode negar importância da escola no processo educacional, mas, sem sombra de dúvida, ela não se resume apenas a essa dimensão. Essa visão é muito pobre  e  ,quase sempre,  leva a uma posição preconceituosa em relação àqueles que “não estudaram”, ou frequentaram apenas o ensino básico. Como consequência dessa visão, “os que estudaram”, são vistos como pessoas “cultas” e os que não o fizeram ou que, por algum motivo, não o puderam fazer,  como “incultos”.
Se a evolução da sociedade dependesse apenas da instituição escolar, que é historicamente uma instituição muito nova, estaríamos ainda na Idade da Pedra. Muito antes de existirem escolas,  o homem já buscava respostas para suas angustias existências e seus problemas práticos, o que o levou a criar conhecimentos que sustentaram grandes civilizações. Em que escola estudou Pitágoras, Tales de Mileto ou Sócrates? Só para ficar nos exemplos mais famosos! Acreditar que é somente através da  escola, em  sentido  stritu sensu, que podemos aprender  , além de ser uma visão muito simplista, implica em  deixar de fora, por exemplo, as sociedade tribais, nas quais existe educação,  mas não a escola tal  como a concebemos  nas sociedades complexas. Nestas sociedades, a educação é um processo que envolve a vida como um todo.  As crianças e os jovens aprendem imitando os mais velhos, convivendo com eles. Comparando o modelo moderno com  o tribal, ou o  das comunidades tradicionais, podemos perceber que, enquanto na sociedade moderna,  lidamos com uma série de coisas  que, superficialmente, sabemos como funcionam, mas desconhecemos   seus fundamentos , como os computadores, por exemplo,(excluindo é claro os  que são especialistas nesse assunto) , nas sociedades tribais,  cada pessoa tem pleno domínio dos saberes necessários a convivência social e  a sua  sobrevivência.
 Mesmo nas sociedades complexas, essa visão de educação mostra-se muito parcial, pois, o que não faltam são  exemplos de pessoas  autodidatas em campos como a música teatro,  pintura. Há pessoas, por exemplo, que nunca estudaram  gramática na escola,  mas que    falam de maneira mais adequada , articulada e  coerente do que muitos  que a “estudaram”. Assim, na visão do senso comum, valoriza-se a  pessoa com diploma  e despreza-se,  ou não se dá o devido valor, a quem aprende por  outros caminhos. Um  agricultor, por exemplo,  muito embora não tenha feito um curso de   agronomia ,  conhece muito bem as propriedades da terra, o ciclo das estações do ano etc.
A verdade é que se aprende na vida como um todo. Aprendemos sobre  psicologia  nas nossas relações familiares; sobre politicas públicas nas ONGS. Sobre economia na militância sindical ou partidária. Aprendemos sobre ética e cidadania na relação com os poderes públicos e outras coisas, inclusive, com os professores na escola. Não se trata, é claro, de dizer que a escola não é importante, mas apenas de reconhecer que se ela  é uma condição necessária para o aprendizado, não é , por si só, uma condição suficiente para o processo educacional.
1.2  A visão da educação como formação puramente profissional.
Muitas vezes escutamos alguém dizer: “Estude para ser alguém  na vida”. Ora, o que significa isso? O que é ser alguém na vida? É simplesmente ter sucesso profissional, financeiro? Acreditamos que não. Educar é muito mais que instruir alguém ou dotá-lo de conhecimentos técnicos e científicos. A educação deve, antes de tudo, formar o indivíduo na sua totalidade, nas suas várias dimensões e potencialidades. É o que os antigos gregos chamavam de Paidéia, ou formação do integral do homem.
 Essa visão pragmática da educação é reducionista e faz com que o processo educacional torne-se  algo chato, desinteressante  e que faz da  escola uma instituição sem vida, um espaço morto ,no qual impera a formalidade , a falta de motivação e  de criatividade. Isso não significa descuidar da nossa formação profissional escolar, que é importante,  mas devemos  enfocá-la  como algo que faz parte de um processo maior, no qual o próprio ato de aprender seja valorizado. É preciso ensinar a beleza do ato de aprender.
2.      A visão filosófica da educação.
Após termos discutido a visão do senso comum da educação, apontando suas insuficiências, vamos agora nos deter sobre  a visão filosófica. Começo fazendo uma associação que considero emblemática e definidora da essência da filosofia  da educação: o amor ao conhecimento. No seu sentido etimológico, filosofia quer dizer amor à sabedoria. Então, o Filosofo é aquele que ama o conhecimento em si mesmo e não apenas pelas vantagens financeiras  ou  profissionais que esse conhecimento possa trazer-lhe. Ama-se o objeto em si, o processo de conhecer, e não unicamente seus produtos. Em outras palavras, nessa visão, amar é conhecer. Ou dito de outro modo, só conhecemos verdadeiramente aquilo que amamos.   Os grandes profissionais são apaixonados pelo que fazem. São pessoas em que o processo de  conhecer vem, basicamente, de fatores internos e não da pressão do mercado e, por isso mesmo,  afirmam -se como  protagonistas do seu saber.
Falar dessa forma, numa sociedade  em que prevalece uma visão pragmática da educação , na  qual acredita-se que algo só  merece ser estudado se trouxer um retorno material, ou se tiver uma aplicabilidade no mercado, pode soar como uma visão ingênua, idealista. Mas, podemos retrucar: o que somos, senão os  nossos sonhos? A sociedade moderna, capitalista, reduziu o homem e o saber a uma condição de mercadoria. Assim como no mito do rei Midas,  hoje tudo que o sistema toca vira mercadoria:  o tempo, o sexo, a religião  a educação , tudo  e todos   são reduzidos a uma só  medida :o dinheiro.  Não é por acaso que vivemos uma epidemia de depressão, porque conhecer é fundamentalmente, buscar sentido para as coisas. Quando falta o sentido, falta a vontade de viver. Nossa memoria é um grande exemplo disso: só fica lá o que nos marca, o que  tem sentido. Aquilo que não  conseguimos ver  um sentido é facilmente apagado de nossa memoria
Com efeito, vivemos tão mergulhados nesta visão  utilitarista da educação   que acabamos tomando-a  como “natural”. Mas não há nela nada de natural. Pelo  contrário, é  uma noção construída socialmente  e que se tornou uma ideologia  hegemônica. Uma das tarefas  das ciências sociais é desnaturalizar as ideologia  mostrando suas reais relações com as formas de poder e controle social. A verdade é que estamos  tão mergulhados nessa ideologia que  acaba nos tornando cegos em relação a ela.É preciso, então, descentralizar nosso olhar. Vermos as questões de maneira mais ampla para podermos entendê-las mais profundamente.
Outro aspecto da visão filosófica da educação pode ser buscado no exemplo de Sócrates. Este, que pode ser considerado o patrono da filosofia, disse que sua  busca pelo saber vinha de uma  missão. Ele nos conta uma historia: Querefonte , um amigo seu, quando foi à cidade de Delfos , ouviu do Oráculo  que Sócrates era o mais sábio dois gregos. Isso intrigou a Sócrates, pois, ele tinha consciência de que e não era sábio, mas, por outro lado, o Oráculo não podia estar mentido. Sócrates era um homem religioso. Viu nisso um enigma, e passou, então, a buscar uma resposta. Através de seu método filosófico, a maiêutica, Sócrates submetia seus interlocutores a uma série de perguntas que os deixava desconcertados. Depois de algum tempo, concluiu que era realmente mais sábio que eles, não porque realmente sabia, mas porque  sabia que não sabia, ou melhor, tinha consciência da sua ignorância.
O que podemos extrair do exemplo de Sócrates? Em primeiro lugar, não devemos ser   arrogantes. O aprender não se esgota nunca. Quanto mais sabemos, mais descobrimos o quanto temos que conhecer. Em Segundo lugar, entender  que o saber nasce da dúvida. Quem não é capaz de duvidar  não consegue conhecer. Mas não é a dúvida pela dúvida , que imobiliza e que leva ao ceticismo puro. Ao contrário, é a dúvida que nos coloca numa posição de vigilância crítica em relação  ao nosso saber, que nos faz questionar os fundamentos dos nossos conhecimentos e das nossas práticas. 
Outro aspecto que podemos buscar na filosofia de Sócrates vem da sua máxima: “Conhece-te a ti mesmo”. Ou seja,  todo conhecimento deve ter por finalidade tornar-se autoconhecimento. Quem somos nós? Qual o proposito da vida? Conhecer é mais do que ter informação. A informação é apenas a matéria-prima do conhecimento. Esse oceano de informações, que é o mundo moderno, às vezes, pode mais confundir do que esclarecer. Construímos conhecimento quando somos capazes de selecionar as informações recebidas, organizá-las, analisá-las e interpretá-las. Não basta saber, é preciso pensar. Ter sendo crítico significa  que , antes de emitir um juízo qualquer,  devo  suspendo  meu  julgamento para buscar fundamentos. Só depois de investigado o objeto e que posso me manifestar.
Por último, acredito que a educação deve ter o papel de realizar a diversas potencialidades humanas. Como diria o filosofo Hegel: “A verdade está no todo”. Não temos que saber de tudo, mas precisamos ver as coisas nos seus contextos, saber relacionar as várias dimensões da vida e do conhecimento. Podemos dividir o conhecimento em partes (processo de analise), mas tudo está relacionado (síntese).  Nosso corpo, por exemplo, não é um mundo regido apenas por fatores internos(Genética), mas pela interação com o meio em que vivemos. Não somos só  o que comemos, mas, aquilo que pensamos, sentimos , vivemos e acreditamos.
Acredito que para podermos avançar no processo educacional é preciso adotar valores e práticas que possam desenvolver a autonomia intelectual de nossos estudantes e de  nossos cidadãos.
 Finalizo, então,  com um pensamento do educador Paulo Freire: “A educação não muda o mundo, muda as pessoas. Mas as pessoas mudadas podem mudar o mundo”.